A cantora de jazz Jessica Molaskey estava falando sobre sua carreira quando parou para tirar uma foto de sua filha de seis anos, Madeleine. “Talvez ela seja médica; a médica mais musical do Mount Sinai [EUA]”.

Madeleine é a mais nova integrante de uma família com história no jazz. Seu pai é o guitarrista John Pizzarelli, seu tio, o baixista Martin, e o avô, cabeça do clã, Bucky. Sua mãe, considerada uma das melhores cantoras de jazz da atualidade, integra a família desde que casou com John há oito anos.

Os Pizzarelli estão reunidos para shows baseados no mais novo disco do guitarrista, “Bossa Nova”, que traz o trio -John, Martin e o pianista Ray Kennedy- com os convidados Bucky, Jessica e Daniel Jobim, neto de Tom Jobim (1927-94).
Standards como “Garota de Ipanema” e “Desafinado” aparecem nos shows. “Com meu pai, você nunca sabe o que vai acontecer; ele toca o que lhe vier à mente, ou o que o público pedir”, diz John.

Nas mãos de Pizzarelli, o sutil equilíbrio entre uma tranquila alegria e a melancolia pende decididamente para o otimismo.

Ele é o tipo de artista que se mostra completamente relaxado no palco; no show, adapta a bossa nova com total tranquilidade. Como o modo de cantar do estilo ganha intensidade o quanto mais suavemente é murmurado, a voz de Pizzarelli é perfeitamente adaptável ao idioma.
Sua agradável execução de standards de Jobim tende a seguir os contornos de famosas gravações.

Família no palco

Como sempre, os duetos de guitarra de Pizzarelli com seu pai são hipnotizantes conversas nas quais dois mestres se engajam em brincadeiras musicais, em que a intimidade transcende qualquer palavra que eles possam trocar.

Embaralhando uma versão bossa nova de “Summer, Highland Falls” (Billy Joel) e “Meditação” (Jobim), Jessica esclarece a essência da canção de Joel, uma luta interna de humores, algo entre a “tristeza e a euforia”. É a “saudade” em versão americana, com toques de dramalhão.

DO “NEW YORK TIMES”

Fonte: São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 2004