O vinho e as coisas boas da vida

Vale du Rhône

domaine-cristia-villages-2012A região da Côtes du Rhône, como diz o nome, situa-se ao longo do vale do rio Ródano (Rhône em francês). O rio Rhône nasce nos Alpes da Suíça (Valais), passa pelo Lago Genebra, entra na França, encontra o rio Saône (Borgonha), percorrendo o sudeste francês até desaguar no Mediterrâneo, próximo à cidade de Marselha.

A região vitivinícola situa-se entre as cidades de Vienne (ao norte) e Avignon (ao sul). É uma região muito particular, onde cada denominação produz um vinho distinto. Seus vinhedos estão entre os mais antigos da França e sua origem remonta ao período das invasões romanas. Segundo alguns historiadores, alguns vinhedos são anteriores à chegada dos romanos na região (125 AC).

Mapa: Vallee du Rhône

Mapa: Vallee du Rhône

Os vinhedos estão situados ao longo do rio, nas encostas íngremes do norte e nos terrenos mais planos do sul. Destacadamente, seus vinhos são (90%), varietais ou não.

Principais Características

Ao longo dos seus quase 200 km de extensão (de norte a sul), diferentes tipos de solos e estilos de vinhos podem ser encontrados. Devido a essa diversidade, costuma-se dividir o vale em duas partes:

Rhône Norte – Setentrional

A parte norte do vale produz alguns dos melhores vinhos da França. As videiras (antigas) estão plantadas na íngremes encostas das montanhas e em terraços (socalcos) muito estreitos, às vezes, com um fileira apenas de parreiras. O rendimento é baixíssimo, a qualidade é espantosa.
Devido ao terreno acidentado a colheita é totalmente manual e quase sobre-humana. O Sol escaldante e o vento mistral garantem condições únicas a esses vinhedos.

A principal uva tinta dessa região é a Syrah. Aqui ela origina vinhos de cor intensa, robustos e de longa guarda. Os aromas mais marcantes são de: framboesa, violeta, pimenta e couro. Podemos dizer que a grande maioria de seus vinhos tem um um caráter “masculino”. O vale norte se estende desde os limites sul da cidade Vienne até a cidade de Valence. As melhores denominações (AOC) são:

  • Côte Rôtie: (encosta assada ou “do Sol”) Região mais ao norte do vale, mais fria e com sole rochoso e granítico. As melhores parcelas de terra ficam nos chamados “Côte Brune” e “Côte Blonde”. Aqui a uva Syrah encontra sua melhor expressão de elegância aliada com potência.
    São vinhos de guarda e estão sempre entre os melhores do mundo. Podem ser cortados com 05% de Viognier;
  • Hermitage: Restrito apenas a uma colina (cidade de Tain L’Hermitage), produz com a uva Syrah (85%) um tinto potente e viril, muito “masculino”. Precisa de tempo para desenvolver seus melhores aromas e pode ser guardado por décadas;
  • Crozes-Hermitage: Seus vinhos cercam a colina (e a demarcação) de Tain-L’Hermitage. Seus vinhos são menos complexos e não necessitam de tanto tempo de guarda. Mas também são muito bons e até espetaculares;
  • Cornas: Micro-região que produz, talvez, o vinho mais retinto e tórrido de toda a França. Precisa de tempo para evoluir e não agrada a todos. Feito apenas com uva Syrah, seus aromas podem evoluir para trufas, âmbar e alcaçuz;
  • Saint-Joseph: Região menos famosa do vale, produz vinhos mais fáceis e leves a partir da Syrah. Devem ser consumidos jovens e sem muita preocupação.

Rhône Sul – Meridional

A parte sul do vale possui características totalmente diferentes. Nesta área, o Sol reina absoluto e a paisagem é típica mediterrânea. Os vinhedos estão em área mais planas e extensas. O sole é argiloso, pedregoso e seco. Nesta região é o solo que faz toda a diferença. Enquanto no norte a uva Syrah reina absoluta, no sul ela é coadjuvante da grenache (Garnacha Tinha na Espanha) e da Mouvèdre. O vale sul se estende desde os limites da cidade Montélimar até a cidade de Avignon. As melhores denominações (AOC) são:

  • Chateaunef-du-Pape: Sem dúvida é o vinho mais conhecido de todo o Rhône. O vinho adquiriu fama na idade média, quando o papado se mudou para Avignon e adotou esses vinhedos. Por lei, o vinho pode ser um corte de treze castas (sete tintas) onde, hoje em dia, predomina a Grenache seguida da Mourvèdre, Surah e Cinsault. A qualidade infelizmente varia muito. As características que devemos procurar são: potência, álcool elevado, sedoso, robustez e longa guarda. Os aromas mais marcantes são frutos passados e em compota, couro e especiarias num fundo picante;
  • Vacqueyras: Excelente região que está em ascensão. Seus vinhos são um corte de Grenache, Syrah, Mourvèdre e Cinsault. Potentes e estruturados, seus aromas remetem à cereja preta e figo. Devem ser tomados entre 03 e 07 anos;
  • Gigondas: Região onde prevalece o corte Chateauneuf-du-Pape. Talvez por isso, seus vinhos sejam muito parecidos. Potentes e de personalidade, com aromas de frutos selvagens e couro. Chamado por muitos de “Chateauneuf dos pobres”;
  • Lirac: Região pouco conhecida no Brasil, mas que vem apresentando grande potencial. Seus vinhos são mais francos e redondos. Predomina a casta Mourvèdre;
  • Outras regiões: Alguns dos melhores vinhos de toda região Sul do Rhône estão em denominações menos conhecidas: Coteaux-du-Triscastin, Côtes-du-Ventoux, Côtes-du-Lubéron e Costières-du-Nîmes.

Ainda existem mais duas denominações mais simples e genéricas: Côtes-du-Rhône e Côtes-du-Rhône Villages. A qualidade de seus vinhos varia muito, mas alguns podem ser muito bons mesmo. Vinhos para o dia a dia que melhoram quando acompanham refeições.

Principais Uvas Tintas

  • Syrah: Pode originar vinhos prontos para o consumo logo que são engarrafados, ou então, vinhos que precisam de muitos anos para evoluir. Tudo depende do estilo e da região em questão. Os vinhos jovens devem ser consumidos até 05 anos. Os vinhos de guarda seguem a seguinte linha: de 07 a 15 anos (Crozes-Hermitage), de 07 a 20 anos (Côtes-Rôtie e Cornas), de 10 a 25 anos (Hermitage);
  • Grenache: O fato de ser tão eclética nos permite degustá-la jovem ou não; tudo depende da região e do estilo do vinho. Somente os melhores vinhos merecem ser guardados. Nessa linha temos: até 05 anos (vinhos rosés e tintos mais simples), de 03 a 07 anos (Gigondas e Côtes du Rhône), de 05 a 15 anos (Châteauneuf-du-Pape);
  • Mourvèdre: Excelente casta que origina vinhos escuros, aromáticos e tânicos. Normalmente entre em corte.
Vinhos degustados pela Confraria dos Prazeres nesse encontro:
  • Côtes du Rhône Villages AOC – Safra 2012
    Tinto seco (FeC – 06 M/F)
    Uva: Grenache
    Valor de referência: R$ 141,00
  • Réserve Perrin – Côtes do Rhône AOC – Safra 2009
    Tinto seco (FeA – 12 M/F)
    Uvas: Grenache, Syrah, Mourvèdre, Syrah
    Valor de referência: R$ 133,00
  • Vacqueyras AOC – Safra 2011
    Tinto seco
    Uvas: Grenache, Syrah, Mourvèdre, Cinsault
    Valor de referência: R$ 244,00

Confraria dos Prazeres – (Reunião de 28/03/16).

Texto de: André Monteiro.
Editado e publicado por: Maicon F. Santos

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  1. joao carlos dantas de brito

    Muito esclarecedor o trabalho. Parabéns.

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