A Grenache (ou Grenache Noir) é a segunda casta vinífera mais cultivada no mundo. Ela não é famosa nem conhecida como a Merlot ou Cabernet Sauvignon e a maioria das pessoas nem imagina que já experimentou essa uva. Mas então, a grande pergunta que fica no ar é: Se pouca gente conhece essa uva, como pode ser tão cultivada? A resposta é fácil: Essa casta normalmente se apresentba em corte e não varietal. Alguns dos vinhos que nós conhecemos tão bem, levam um percentual de Grenache. Apenas para exemplificar: Rioja, Châteauneuf-du-Pape e “GSM”.

Sua origem está intimamente ligada ao Mediterrâneo. Sua terra natal é a Espanha, mais precisamente a região litorânea da Cataluña. Por conta disso, a Grenache também é conhecida pelo seu nome espanhol, Garnacha (ou Garnacha Tinta). Ainda recebe o nome de Cannonau na Córsega e na Sardenha.

Fácil de cultivar, pode ser encontrada em muitas regiões (mais quentes). É uma uva versátil, produz desde vinhos rosés, passando pelos tintos, chegando aos vinhos de sobremesa. Pode estagiar em madeira (velha, de preferência) ou não. Origina vinhos alcoólicos, aromáticos com poucos taninos e baixa acidez.

Características

A palavra chave para se ter um bom vinho (varietal ou cortado) feito a partir da Grenache é Baixo Rendimento. Essa casta é muito vigorosa, portanto, necessita ser domada no vinhedo com várias podas. Segundo alguns especialistas, o rendimento ideal da Grenache é de aproximadamente 35hl/ha, porém, é comum encontrar apenas 06hl/ha nas vinhas velhas do Priorato e 15hl/ha em Châteauneuf-du-Pape.

O descaso com o vinhedo compromete totalmente o resultado final, não sendo possível corrigir na cantina (adega). Outro cuidado que se deve tomar é com relação à possibilidade de ocorrência de oxidação prematura durante a fermentação.

A Grenache é possivelmente a casta mais “sociável” que existe, participando de vários cortes. Fácil de cultivar, a videira se adapta muito bem aos climas mais quentes com pouca água.

Os melhores solos são: calcário, arenoso e granítico (galets roulés e llicorella). Melhor ainda se forem secos com excelente drenagem e podres em nutrientes.

Possui brotamento precoce e longo período de crescimento até o completo amadurecimento. Sendo uma das últimas castas a ser colhida. Isso explica, em parte, a alta concentração de açúcar no bago, o que resulta em elevada graduação alcoólica, podendo passar dos 15º. Os bagos são pequenos, de pele fina e com pouco pigmento; originando vinhos com poucos taninos e pouca cor.

Aromas:

  • Framboesa;
  • Morango;
  • Ameixa;
  • Damasco seco;
  • Pimenta do reino fresca;
  • Especiarias;
  • Azeitona preta;
  • Castanha assada;
  • Café;
  • Couro;
  • Amarone.

Devido a sua versatilidade em produzir vinhos de diferentes estilos, podemos dizer que são muitos os aromas e sabores da Grenache.

Em linhas gerais, os aromas primários mais encontrados são: frutas vermelhas (morango, framboesa, ameixa), frutas pretas (groselha preta, amora), especiarias (pimenta do reino, gengibre, azeitonas pretas), amanteigados (mel), amadeirados (café, couro, tostado, castanha assada). Dependendo da região, ainda podemos encontrar aromas de amarone italiano ou tawny.

Na boca, a Grenache também pode se apresentar das mais variadas formas: rosé, tinto seco ou doce. Seus vinhos tendem a ser alcoólicos, vivos, intensos, potentes e gordos. Algumas vezes a acidez e o tanino podem decepcionar. O corpo pode variar entre baixo para médio (rosés), passando pelo corpo médio clássico (tintos de Rioja e Châteauneuf-du-Pape) até encorpados (Priorato e “GSM”). Além disso, no caso dos vinhos de sobremesa, a textura é envolvente, potente e complexa.

Assim como a maioria das castas, a Grenache pode ser apresentada sozinha (varietal) ou em corte (assemblages). Os vinhos em corte são mais frequentes. As associações mais comuns são com a Tempranillo (Rioja), Merlot, Cabernet Sauvignon, Syrah e Cariñena (Priorato) e Mourvèdre (Rhône e Austrália).

O fato de ser tão eclética nos permite degustá-la jovem ou não; tudo depende da região e do estilo do vinho. Somente os melhores vinhos merecem ser guardados. Nessa linha temos:

  • até 05 anos (vinhos rosés e tintos mais simples);
  • de 03 a 07 anos (Riojas crianza, Gigondas e Côtes Du Rhône);
  • de 05 a 10 anos (Banyuls e Maury);
  • de 05 a 15 anos (Priorato e Châteauneuf-du-Pape).

Principais Regiões

Cultivada em muitos lugares do mundo, as principais regiões são:

Espanha, Priorato – Tudo indica que aqui é a sua terra natal. As videiras são antigas. Existem dois estilos de vinhos aqui, o antigo que irá se apresentar ultra potente, concentrado, alcoólico e extremamente escuro que precisará de muitos anos para evoluir (cortada com Cariñena). O estilo moderno apresenta vinhos mais prontos, ainda potentes, com intenso aroma frutado (cortada com Syrah, Merlot ou Cabernet Sauvignon);

Espanha, Rioja – Já teve mais prestígio, hoje, seu cultivo está em declínio na região. Mesmo assim, ainda existem aproximadamente 9.000ha em atividade, principalmente em Rioja Baja, onde compõe cerca de 20% da mistura. Seus vinhos não são recomendados para guarda;

Espanha, Navarra – Aqui a palavra chave é Rosado. Navarra produz alguns dos melhores vinhos rosés da Espanha e a Garnacha tem papel fundamental nisso, fornecendo álcool, estrutura e aromas frutados;

França, Vale do Rhône (Região Sul) – A Grenache é uma das grandes estrelas da região. Muitos dizem que ela é a “carregadora de piano” dos vinhos cortados. Ela responde por, nada menos, que 40% dos vinhos denominados “Côtes du Rhône” e “Côtes du Rhône-Villages”. O grande problema aqui é que a qualidade varia tanto quanto o número de rótulos a venda. É necessário conhecer bem a região e os produtores. Ainda valem a pena os vinhos da denominação Vacqueyras;

França, Châteauneuf-du-Pape – Nesta famosa denominação, a Grenache representa a espinha dorsal do vinho, originando exemplares suculentos, picantes, aromáticos e prontos para beber em 3 anos ou, se preferir, evoluir por mais 10. É preciso tomar muito cuidado com esta denominação, pois existe muito vinho sem graça, com excesso de álcool e pouca inspiração;

França, Gigondas – Outra denominação do sul do Vale do Rhône que é dominada pela Grenache (80%). Seus melhores vinhos podem ser elegantes com um toque de evolução, inclusive na cor. É comum na região, estagiar a Grenache em barricas grandes e velhas;

França, Tavel e Lirac – Aqui a vez é do vinho rosé. Origina vinhos surpreendentes, alcoólicos, estruturados e muitas vezes, espetaculares;

França, Roussillon – Mais precisamente nas sub-regiões de Banyuls e Maury. A especialidade são os vinhos de sobremesa, fantásticos. Para muitos, os únicos vinhos que harmonizam com chocolate;

Austrália – Começou a ser cultivada na região de South Austrália (Adelaide) no final do século 18 e, ainda hoje, muitos parreirais em produção têm mais de 80 anos. Uma sigla representa o que há de melhor por lá: “GSM”, ou seja, um delicioso vinho tinto feito da mistura de Grenache, Syrah e Mourvèdre. As melhores sub-regiões são Barossa Valley e McLaren Vale;

Outras regiões – Ainda merecem destaque como bons produtores: Córsega (vinhos mais frescos e jovens), Sardenha (vinhos concentrados varietais ou em corte com a Carignano); África do Sul (vinhos com um toque mais terroso, animal, com algo de velho).

Grandes Grenaches

  • Château Rayas;
  • Château de Beaucastel;
  • M.Chapoutier;
  • E.Guigal;
  • Paul Jaboulet Aîné;
  • Jacques Perrin;
  • Clos du Papes;
  • Clos Mogador;
  • Costers del Siurana;
  • Mas Martinet;
  • Mas Igneus;
  • Álvaro Palácios;
  • Rotllan Torra;
  • Falset Marçà;
  • Argiolas;
  • Sella&Mosca;
  • Bonny Doon;
  • Sine Qua Non;
  • Clarendon Hills;
  • D’Arenberg;
  • Hardys;
  • Penfolds;
  • Rosemount;
  • Yalumba.

Compatibilização

Devido a sua versatilidade, a Grenache pode combinar com uma infinidade de pratos. Tudo depende do estilo do vinho. Muitas vezes ficará excelente sozinho. Mas as melhores combinações são:

Rosés – Carpaccio, Paella, Frutos do Mar salteados, Vegetais grelhados, Peixes (Sardinha, Atum, Salmão);

Tintos Leves – Combina com culinária picante indiana, tailandesa, parte da árabe e churrasco;

Tintos Potentes – Grelhados, Cordeiro, Pato, Caçarolas e Guisados.

Vinhos elaborados com a Uva Grenache. Foto: Maicon F. Santos

Vinhos elaborados com a Uva Grenache. Foto: Maicon F. Santos

Confira os vinhos degustados pela Confraria dos Prazeres nesta reunião:

01 – Signal Hill – Grenache “La Siesta” 2002 (África do Sul, Carpe Town) – Preço de referência: R$ 65,00

02 – Falset-Marçà – Ètim Selection Grenache 2002 (Espanha, Priorato) – Preço de referência: R$ 80,00 (PE87)
Vinho super denso, de aromas quentes: chocolate, geléia… tudo em compota.
Álcool um pouco elevado e sabor leve de groselha.

03 – M.Chapoutier – “La Bernardine” 2005 (França, Chêteauneuf-du-Pape) – Preço de referência: R$ 220,00 (WS92)

04 – Mas Igneus – Costers de M.Igneus 1998 (Espanha, Priorato) – Preço de referência: R$ 324,00 (RP94)
De coloração rubi evoluído, já acastanhado.
Aromas com um toque mais doce, mais suave, de azeitonas pretas, castanha e Amareto.
Na boca é equilibrado e educado. Simplesmente maravilhoso.

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Até a próxima degustação!

Texto de André Monteiro.
Editado e publicado por Maicon F. Santos.