Durante muito tempo, o Sul da Itália foi o responsável por abastecer os mercados com vinhos baratos, sem a menor qualidade, destinados apenas ao consumo corriqueiro. Mesmo assim, dentro desse cenário deprimente, alguns produtores acreditavam que era possível fazer vinhos de alta qualidade, vinhos que exprimissem as características particulares de cada região. Nos últimos 20 anos, essa “bem vinda teimosia” se mostrou estar certa.

Hoje podemos dizer que as regiões do Sul da Itália produzem alguns dos vinhos mais excitantes do mundo. Investimentos massivos, alta tecnologia, cuidados especiais com os vinhedos e profissionalização do setor, são alguns dos motivos para essa revolução positiva.

Principais Regiões

Lazio

Região que privilegia os vinhos broncos, destacando-se as castas Malvasia e Trebbiano. Os melhores vinhos brancos são: “Est! Est! Est!!!” e o Frascati. Mas cuidado, existe uma enorme quantidade de vinho ruim sob essas denominações, somente os melhores produtores são recomendados. Quanto aos tintos, algumas iniciativas começam a surtir efeito, destacando-se as castas: Nero Buono di Cori, Sangiovese, Merlot e Montepulciano.

Abruzzo

Os Apeninos e seus contrafortes são uma constante na paisagem dessa região, além de serem perfeitos para o cultivo da videira. As castas mais cultivadas são: Trebbiano (branca), Montepulciano (tinta) e Sangiovese (tinta). Somente nos últimos 15 anos os produtores se deram conta do potencial da região e agora começam a apresentar vinhos tintos mais elegantes, equilibrados e aromáticos.

Campagnia

Na antiguidade, a região era responsável pelo principal vinho bebido na Roma Imperial, o Falerno. Infelizmente, nos últimos séculos, nada mais pareceu de interessante nessa região. Porém, nos últimos anos, com o “Ressurgimento” do vinho italiano, a região renasceu e se tornou uma das grandes surpresas do mundo do vinho. Todo esse alvoroço se deve, principalmente, ao fato da região possuir um excelente patrimônio de castas autóctones (próprias da região): Falanghina, Fiano, Greco di Tufo (brancas), Aglianico e Piedirosso (tintas). O vinho mais cultuado é o Taurasi (DOCG).

Basilicata

Região pobre, pequena e montanhosa. A principal casta é a tinta Aglianico, que consegue produzir excelentes vinhos nas encostas do vulcão Vulture. Também existe um pouco de vinho branco de qualidade (doce) feito a partir da casta Muscat.

Puglia

Região de lindas paisagens e com forte apelo agrícola, até os anos 1980, os vinhos se destinavam ao consumo corriqueiro e não tinham personalidade ou qualidade. Hoje, a região se renova para não desaparecer. O ano da transformação foi 2000, quando um grande produtor da Toscana (Antinori) resolveu investir na região. As principais castas são tintas: Negroamaro e Primitivo.

Sobre a degustação realizada pela Confraria dos Prazeres

Esta foi a última degustação que estava programada para este ano sobre a Itália e não restam dúvidas: Fechamos o tema Itália com chave de ouro.

Foram quatro vinhos trazidos pelo mestre André e mais um para o jantar que costumamos fazer após a degustação. Todos os vinhos estavam fantásticos.

Relação dos Vinhos Degustados

01 Santa Lucia – Castel Del Monte Riserva “Le More” 99 (Puglia – Uva di Troia 100%) – Preço de referência: R$ 106,60

Sensações Visuais: Totalmente escuro.

Sensações Olfativas: Aromas quentes (percebe-se o sol no vinho). Frutas vermelhas maduras passadas, com alguns aromas que remetem ao vinho do porto. Pouco aroma doce, mas muito agradável. Caramelo e um pouco de baunilha.

Sensações gustativas: Álcool +, Acidez +, Tanino +, Amargor – (nada). Pegada salgada. Corpo alto (quase mastigável). Quente.

Considerações finais: Melhor no aroma do que na boca. A região tem tanto sol, que o tanino fica redondo no bago e evitando o amargor. Combina com carnes de caça (javali, cordeiro). 13,5% álcool.

02 Argiolas – Korem’03 (Sardenha – Bovale Sardo, Carignano, Cannonau) – Preço de referência: R$ 195,00

Sensações Visuais: Escuro, Bastante Denso.

Sensações Olfativas: Cravo, especiarias, frutas pretas (ameixa, jabuticaba). Canela, Borra de Café e Anis.

Sensações gustativas: Álcool ++, Acidez +, Tanino ++. Vinho muito agradável e equilibrado.

Considerações finais: Vinho fantástico. Um dos melhores da noite. Tomar até 2020. Álcool 14,0%.

03 Salvatore Molettieri – Taurasi “Cinque Querce” 02 (Campagnia – Aglianico 100%) – Preço de referência: R$ 205,00

Sensações Visuais: Rubi indo praticamente para o preto.

Sensações Olfativas: Lembra muito os vinhos de Bordeaux (margem direita). Couro, Suor de animal, Almíscar e Chocolate.

Sensações gustativas: Álcool ++, Acidez ++, Taninos ainda verdes (muito jovem).

Considerações finais: Hoje é o único vinho do Sul da Itália que é DOCG. Tomar a partir de 2018. Álcool 14,5%.

04 Mastroberardino – Taurasi “Radici” Riserva 99 (Campagnia – Aglianico 100%) – Preço de referência: R$ 209,00

Sensações Visuais: Bastante escuro, quase preto.

Sensações Olfativas: Tudo velho. Lembra os vinhos de Bordeaux (margem esquerda). Assoalho velho, Casca de maça vermelha.

Sensações gustativas: Álcool e Acidez equilibrados. Não é tão potente e seus taninos já estão resolvidos.

Considerações finais: Abrir em 2015. Álcool 13,5%.
Obs.: Todos os vinhos Taurasi precisam ser varietais da casta Aglianico.

Para o jantar, colocamos um vinho da Sicilia. O Cusumano – Nero D’Avola 06 (Sicilia – Nero D’Avola 100%), que também estava excelente. Preço de referência: R$ 55,00.
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Até o próximo encontro da Confraria dos Prazeres.