Caros confrades, um novo escândalo está abalando o mundo dos vinhos. Desta vez, as atenções recaem sobre a Itália. As safras mais recentes do prestigiado Brunello de Montalcino, um dos tintos mais celebrados do país, podem ter sido adulteradas.
Esse escândalo serviu de inspiração para a nossa confraria escolher o assunto deste encontro. Para entendermos um pouco disso tudo, precisamos viajar até a Itália, mais precisamente para a região central, a Toscana: que tem como capital a fantástica cidade de Firenze.
A região da Toscana é caracterizada pelos vinhos tintos feitos a partir da uva Sangiovese. É uma das regiões vinícolas mais importantes da Itália, conquistando consumidores de todo mundo com sua variedade de vinhos. A diversidade de características (aroma, sabor, corpo, estrutura, etc.) e a alta produção anual impedem uma classificação geral da bebida. São mais de 7 mil vinhedos.
Existem inúmeras denominações de origem, cada uma com suas regras e estatutos.
Uva Sangiovese
Sangiovese é a uva típica do centro da Itália, mais precisamente da Toscana, porém, sua origem está nos vales da região de Emilia-Romana. Acredita-se que inicialmente ele era uma uva corriqueira, silvestre. Ela também pode ser encontrada em outras regiões italianas com menor expressão.
Durante muito tempo essa uva foi cultivada de forma pouco cuidadosa e, após a 2ª Guerra Mundial seu cultivo extrapolou qualquer controle razoável e o rendimento altíssimo fez com que seus vinhos se tornassem medianos, ácidos e amargos. Esse declínio permaneceu até meados da década de 70.
A partir dos anos 80, alguns produtores passaram a cultivá-la de forma mais elaborada e os resultados logo apareceram. Novos Chianti com qualidade muito superior a média se tornaram referência e com isso novos vinhos apareceram. Hoje temos várias denominações com essa uva, sendo que as principais são: Chianti, Brunello di Montalcino, Rosso di Montalcino, Morellino di Scansano, Vino Nobile di Montepulciano, Carmignano e os Supertoscanos.
A Sangiovese é uma uva fácil de cultivar, preferindo climas temperados com pouca chuva. Os cachos têm muitos bagos e estes são de pele espessa, que podem originar vinhos grosseiros e fracos se colhidas sem a maturação completa ou vinificados sem muito cuidado. As melhores técnicas recomendam o plantio de alta densidade (7000 pés por hectare) em solos pobres, com podas constantes para diminuir o rendimento. A insolação é fundamental, portanto é necessário aparar constantemente as folhas. A Sangiovese pode ser vinificada sozinha (varietal) como no caso dos Brunellos ou em corte como nos Chianti e Supertoscanos.
Quanto aos aromas, a Sangiovese apresenta tradicionalmente notas de violeta, tabaco, cereja, tomate, ervas e chá. Ainda podemos encontrar aromas de baunilha, pimenta em pó e ameixa. No caso dos Morellinos, os aromas são mais animais e terrosos. Na boca, a Sangiovese é ácida e com taninos a resolver. O corpo varia de pequeno (Chainti genéricos), passando por corpo médio (Rosso e Vino Nobile) até chegar aos encorpados (Brunello e Supertoscanos).
Hoje a Sangiovese possui muitos clones, os mais conhecidos são: Brunello, Prugnollo Gentile e Sangioveto.
Chianti – Uma breve explicação.
Chianti é o mais famoso de todos os vinhos italianos. Produzido na região da Toscana, nas cercanias das cidades históricas de Firenze e Sienna. Os vinhedos de Chianti estão espalhados por toda a região, sendo que em 1932 foram definidas por lei sete zonas produtoras, dentro da apelação. São elas: Chinti Clássico, Colli Aretini, Colline Pisane, Montalbano e Rufina. Mesmo com a introdução das normas de DOC (Denominazione di Origine Controlata) e DOCG (Denominazione di Origine Controlata e Garantita), estas subdivisões permaneceram inalteradas. A região de Chianti Clássico é a original (apenas foi um pouco aumentada), ficando situada na região montanhosa entre Firenze e Sienna, produzindo os melhores vinhos de Chianti. Dos subdistritos, Rufina e Colli Fiorentini podem produzir vinhos no estilo dos Chianti Clássico. Os demais produzem vinhos mais leves, para consumo imediato e descompromissado.
Por lei, os Chianti devem ter pelo menos 80% de Sangiovese e podem receber até 10% de uvas tintas estrangeiras (as mais usadas são: Cabernet Sauvignon, Merlot ou Syrah).
A questão dos Brunellos
Um escândalo abala os amantes de vinho italiano. As safras mais recentes do prestigiado Brunello de Montalcino, o tinto mais celebrado do país, podem ter sido adulteradas. Produzido na cidade de toscana de Montalcino, o Brunello foi o primeiro vinho italiano a ganhar a chancela de DOC (Denominação de Origem Controlada) e depois o status de DOCG (Garantida) também. Por força de lei, ele tem de ser elaborado apenas com uma cepa da uva Sangiovese, típica da região, mas suspeita-se que tenha recebido uma mistura de Merlot, Cabernet e Sauvignon. Investigadores bloquearam o engarrafamento da safra de 2003 do Brunello reserva de produtores importantes. Vários produtores estão sob investigação e todos negam as acusações. Antes de tudo, precisamos conhecer um pouco mais sobre o Brunello e sua história.
A superfície total dos vinhedos destinados ao Brunello é de 16 Km2. Para sua fabricação, é usada apenas uma cepa da uva Sangiovese conhecida localmente também de brunello. Um Brunello deve envelhecer pelo menos 2 anos em madeira e 4 meses na garrafa antes de distribuído, sempre depois do dia primeiro de janeiro do quinto ano depois da colheita. Os vinhos riserva, por sua vez, é distribuído após 6 anos, sendo 2 deles passados em barris de carvalho e seis meses em garrafa. A madeira utilizada pelos produtores tradicionais vem da Eslovênia, os produtores mais novos usam carvalho da França.
Desde o final do século XIX, a cidade de Montalcino produz um dos vinhos tintos mais famosos e caros do mundo. Elaborado com um única variedade de uva, Brunello, uma variante da Sangiovese da região do Chianti, ele difere de qualquer outro já produzido em Montalcino durante os mais de mil anos de cultivo da vinha nesse distrito próximo de Sienna.
O Brunello “moderno” apareceu em 1880 quando Clemente Santi começou a fazer experiências para isolar a uva Brunello e encorajar seu cultivo. Os vinhos Santi feitos com esse novo clone foram aclamados em exibições em Londres e Paris no ano de 1850, mas foi somente em 1880 que seu neto Ferruccio Biondi, ao assumir o vinhedo da família, criou o primeiro Brunello no estilo que é mantido até hoje. Seu filho Tancredi, um experiente agrônomo e reputado enólogo, refinou ainda mais o vinho e o lançou no mercado com grande sucesso. O Vinho só pode ser vendido após o quarto ano e com mínimo de 12,5% de álcool; com cinco ou mais anos de envelhecimento pode ser denominado Riserva.
A sucessão familiar chega aos dias de hoje com Franco Biondi-Santi, filho de Tancredi, que expandiu a propriedade nomeando-a “IL Greppo” e o primeiro a promover degustações verticais para mostrar a grande longevidade dos Brunellos.
Numa realizada em 1994 foram degustados quinze Riservas, sendo que o primeiro lugar com nota máxima de 100/100 coube ao da safra de 1891. Nada mal para um vinho de 103 anos.
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Confraria dos Prazeres
Junho/2008
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